Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



domingo, 27 de fevereiro de 2011

Guarde sua opinião para si!

Vivemos um período interessante no aspecto da discussão sobre gostos e preferências. Ao mesmo tempo liberal e totalitário. Cada um pode ter seu autor, filme, livro ou artista preferido desde que guarde para si mesmo sua opinião! Ai, de quem ousar anunciá-la em alta voz! Logo se verá bombardeado de argumentos que buscam rotulá-lo de pedante, esnobe e, até mesmo, ignorante! Sim, porque para as almas de nossa época multicultural e politicamente correta anunciar uma preferência é crime de soberba ou ignorância.
Mesmo que sua opinião seja colocada apenas com o objetivo de compartilhar uma impressão ou de iniciar uma conversação, não deixará de chocar os espíritos pós-modernos com sua pretensão de hierarquizar e ter preferências expressas. Para estes "Tudo é cultural. Tudo é igualmente legítimo e bom."  Dizer " Não deixaria de ler Mario Vargas Llosa ou Ismail Kadaré para ler Ana Miranda ou Hanif Kureishi" já é suficiente para interpretarem que você exerce uma injustificada preferência; uma auto-exibição. Nos dias que correm, a expressão de uma subjetividade não é mais entendida como uma meio de compartilhar uma opinião ou abrir uma discussão, mas sim como uma pretensão ociosa de quem não possui autoridade alguma para expressar seus próprios julgamentos. A coisa se passa da seguinte forma: "Tenha a opinião que quiser, mas guarde-a para si."
Uma mistura de relativismo e politicamente correto tomou conta da opinião pública. Mostre tanto respeito por Chitãozinho e Xororó quanto por Beethoven, por um escritor de talento quanto por um outro da moda.
Ostentar uma convicção, então ? Ofensa aos filhos da sociedade multicultural!
Quem não já não foi alvo de severas críticas por externar uma crença ? "O filme X é um dos melhores já vi  na última década." Pronto! Você externou uma convicção pessoal. Pecado grave!
O que os defensores do relativismo têm em mente na verdade é um novo tipo de hedonismo. Não almejam gostos autênticos, mas algo polimorfo, um mundo matizado onde todos os prazeres estariam ao alcance do indivíduo mimado. "Multicultural significa para eles bem abastecido, não são as culturas enquanto tais que apreciam, mas sua versão edulcorada, a parte delas que podem testar, saborear e descartar após o uso." (FINKIELKRAUT, A. A Derrota do Pensamento. Editora Paz e Terra, 1988). Consumidores, enfim! Seu ideal é ler Proust pela manhã, jogar boliche à tarde e jantar em um restaurante indiano à noite.  Nada deve barrar a fluidez de seus gostos.
Pior quando esta impostura vem acompanhada de um discurso pretensamente democrático e esclarecido: Caso você se apegue a manter uma hierarquia "severa" de valores, então você é um  esnobe que se priva dos prazeres da vida ao recusar a marca cultural a qualquer produto da cultura de massas ou da distração televisiva. O sujeito pós-moderno prefere  levar uma vida self-service, pegando nas prateleiras da industria cultural os modelos de vida que lhe permitam "flanar" e "brilhar" sem nunca ter que se aprofundar em coisa alguma. Nada  mais odioso do que a pretensão de se discutir gostos. "Não, tudo vale! Tudo é cultural." ou o ainda pior e mais comum "gosto não se discute". Esta última frase então, parece pretender acabar com a discussão.
Parece que a frase cunhada pelo poeta Gilbert Keith Chesterton serve muito aos tempos atuais: " A modéstia abandonou a tarefa de controlar a ambição para encarregar-se do controle da convicção..." (citado por COELHO, Marcelo. Gosto se Discute, Editora Ática, 1994).