Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Saco Cheio!







Ok. Estou de saco cheio de tudo!
Nem minhas leituras, músicas e filmes conseguem mais me dar um alívio.

Aliás, as pequenas e gratificantes coisas que costumava fazer por prazer já não estão funcionando há algum tempo.
Espero que este período passe logo!

Pego engarrafamento todos os dias para ir ao trabalho. Sempre tem os trogloditas de plantão, que jogam seus veículos contra o seu para ganhar um ou dois metros. Os espertinhos que tentam cortar pela direita ou trafegar pelo acostamento se fazem presentes também.

Ao chegar lá o que encontro ? Pessoas, em sua grande maioria, para baixo. Sempre com problemas mesquinhos como contas a pagar, necessidade de mais dinheiro ou, ainda, buscando algum status dentro da empresa para compensar a falta de importância fora dela. Só falam e fofocam sobre trabalho, futebol, novela ou a Dança dos Famosos (nem sei o que é isso e nem tenho curiosidade em saber!).
Dois minutos conversando com estas pessoas e meu espírito suplica por uma rota de escape!

Retorno para casa. Engarrafamento em sentido contrário. Os mesmos personagens toscos.
Pô, detesto dirigir, mas a cidade em que moro não possui transporte público descente. Nunca precisei de carro em Sampa ou no Rio, mas aqui...

Bem, como escrevi espero que isto passe logo. Quero voltar a pisar a grama descalço e me sentir bem.












segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Vida Corporativa II

Quem já não passou por uma situação destas ? Reunião com consultores externos contratados sabe-se lá por quanto para nos dizer como deveríamos trabalhar após dias ou mesmo semanas nós perguntado sobre nosso trabalho (o que fazemos e como fazemos). 












Todos com cara de "já conheço este enredo". Sentamo-nos a mesa.  A maioria das vezes sem a presença do chefe que contratou aquele serviço. 


Toró de senso-comum e conclusões óbvias. Todos, porém, têm que manter no palco, digo, na reunião, a postura de interessados sobre o "inédito" tema.  Os mais entusiásticos (puxa-sacos)  se  mostram atentos, nem piscam. Alguns até fazem perguntas (perguntas óbvias, é claro) ao final.


Com o canto dos olhos lanço uma panorâmica sobre a sala. A maioria mal consegue dissimular seu enfado (afinal já passou por aquilo várias vezes sem que nada, absolutamente nada mudasse para melhor no ambiente de trabalho). 

Terminada a reunião, voltamos para as tarefas operacionais do dia-a-dia na certeza que participamos de uma peça de mau-gosto. Os consultores tomam o caminho dos elevadores certos de que vão colocar as mãos em polpudas  verdinhas e que palestraram para uma platéia de beócios que não consegue pensar as próprias atividades laborais. Provavelmente nunca mais os veremos. Outros virão da próxima vez (tem que haver um rodízio, certo ? Todos têm que ganhar na famigerada indústria da consultoria).




É fato que a arte de encher lingüíça é cada vez mais valorizada no  mercado de trabalho.  Projetos e dinheiro gasto com o blá-blá corporativo que não adiciona nada, não faz nada. Quanto mais o profissional domina a arte da embromação verbal, mais  valorizado ele é, e nem precisa ser consultor amigo do chefe. 


Se ele ou ela ainda adiciona uma roupa de grife, uma vivência no exterior ou mesmo uma viagem a um país da moda, então a imagem está montada. Não se questionam símbolos.














Sinto que o que precisaríamos de um movimento  no mundo corporativo que denunciasse estas falácias. Algo próximo com o que Sócrates fez com os sofistas na Grécia há quase 2.500 (se é que isto é possível). Pessoas que façam as perguntas simples e fundamentais, e duvidem de tudo que os outros, arrogantemente,  afirmam saber. Alguém que desmonte o discursos dos sofistas corporativos de nossos tempos (aqueles mais preocupados com a forma do discurso, com o convencimento alheio, do que com a precisão e acerto do que falam). 
Chego a pesar que o mundo do trabalho hoje é governado pelo não-pensamento. Uma espécie de discurso vazio, auto-referenciado e feito em grande parte de uma mistura de receitas para solucionar problemas e senso-comum,  que oprime as pessoas a se sujeitarem sem pensar muito. 
Quer coisa pior para se ouvir do que o batido: "somos uma equipe". Por trás da frase, esconde-se um mundo de contradições que são jogadas para debaixo do tapete. Os quadros mais elevados da hierarquia da corporação querem teu sangue, querem que você se mate de trabalhar, sacrificando sua saúde, família e outras atividades. Pouco se lixam para você na realidade. Você, por seu lado, deseja trabalhar sem sacrificar seu bem-estar, trabalhar com um objetivo nobre que não seja o de "dar resultados" para os níveis mais altos da burocracia da corporação. Não há identificação de valores e objetivos. Então, como assim "somos uma equipe ?".
Para alguém acostumado a ouvir, analisar e criticar os argumentos que lhe são oferecidos, é uma tortura! 

O que quero dizer, é que, por conta deste cenário, o ambiente de trabalho é dominado pela empolação, falta de coerência e sinceridade. O mundo corporativo é governado por imagens e  formas sem conteúdo. O que alguém aparenta ser, facilita-lhe o caminho para a obtenção da aprovação e aquiescência alheia. As pessoas que se utilizam do recursos da imagem, sabem disso. Sabem que o importante no mundo corporativo não é o QUE SE DIZ, mas QUEM DIZ.

Uma constatação feita por um funcionário em uma reunião ou em uma conversa com o chefe é, em muitos casos, ignorada ou menosprezada. 
Se, no entanto, for um consultor de fala empolada, ou o superior hierárquico de nosso chefe que faz a mesma constatação, a coisa muda de figura.

Quer saber quais  os dois maiores mitos do discurso corporativo ? eficiência e felicidade no trabalho. Como se pudéssemos ser mais eficientes sem  controlarmos as decisões e os meios técnicos à nossa disposição. Por outro lado, quem em sã consciência acha que o lugar de trabalho é o lugar da felicidade e realização ? Pô, vai ler Marx meu filho, mais-valia e alienação são ainda preponderantes na sociedade capitalista e no mundo laboral.

Por mais que se pretenda dar um caráter formal, profissional e racional as corporações, elas são governadas por preferências pessoais ( e portanto subjetivas) e distinções baseadas em estereótipos de sucesso e discursos avolumados. 











sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O valor do trabalho em nossas vidas


Apesar de não gostar da leitura de textos oriundos do mundo corporativo, encontrei um (finalmente!) que me pareceu interessante.
O tema era sobre as relações empregados versus empresas nos dias que correm.  O autor é um filósofo e professor pelo qual tenho uma boa dose de consideração.
Ele discute a questão de a lealdade do empregado para com a empresa ser um ponto superado no mundo corporativo de hoje.
Simplificando um tanto seu argumento, ele coloca a seguinte questão: se a empresa, por qualquer motivo, pode, de uma hora para outra, dar o bilhete azul para seus funcionários, por que estes deveriam ser  leais a ela no caso de uma concorrente lhes oferecer salários maiores ? Ora, se a força de trabalho hoje pode ser tranqüilamente dispensada ou adquirida como uma commodity qualquer, porque o funcionário tem que se manter preso a códigos de valores morais pré-transformações do mundo do trabalho ?

Não é ético entrar em uma empresa ficar pouco tempo e sair para trabalhar em um concorrente que paga mais ou lhe oferece melhores condições de trabalho ? E não é falta de ética a empresa mandar embora funcionários que lhe serviram por anos só porque ficaram velhos ou porque está "realinhando suas estratégias e objetivos" ?

Deve o trabalhador ficar em uma empresa que não lhe oferece reconhecimento, treinamento e uma finalidade para o que faz ? Eu creio que não.  Se o trabalhador não for um pobre de espírito que só pensa em din-dim,  ele concluirá em algum momento que não está valendo a pena.

Não devemos esquecer o óbvio ululante, as empresas exercem suas atividades para terem lucro, isto é, vivem sob a lógica do mercado. Quando o funcionário não serve mais, não é mais útil, rua com ele!
Alguém na empresa pode até ter um pouco mais de consideração (só um pouco mais) se o funcionário é antigo e passou anos dando o sangue pela instituição, mas, mesmo neste caso, se o cara não se "recuperar" logo, vai pra rua e ponto! 
Então qual o problema do empregado utilizar a lógica do mercado ? Se o concorrente me paga melhor e me oferece melhores condições, Adeus!




Não se trata mais de colocar a empresa ou o trabalho no centro de nossas vidas, mas a si mesmo.
O tempo em que se sacrificava tempo, família e prazeres para nos colocarmos à disposição da empresa já passou. Não é o caso de ser displicente ou hedonista, mas sim de nos colocarmos no centro de uma relação profissional de maneira a avaliarmos o que desejamos para nós e que custos estamos dispostos a incorrer para progredirmos profissionalmente.

O trabalho tem que ser fonte de  realização. Ele tem  nos humanizar, nos tornar melhores. Caso contrário, é um castigo cotidiano, independente do salário que se obtenha.
Isto faz muito sentido  hoje, quando a trajetória profissional é vista como um problema do trabalhador, do indivíduo. Então falar do trabalho como um compromisso com a sociedade ou como um dever moral tornou-se balela!

"A questão é que já não se trata da obrigação moral abstrata de trabalhar "com todo zelo", mas do desejo pessoal de ter êxito naquilo que cada um se propõe a fazer, como também em cultivar a ufania e o senso de responsabilidade em seu trabalho, saber progredir, encontar um significado naquilo que se realiza."(LIPOVETSKY, 2005)


As características laborais de um modelo altamente hierarquizado e burocrático acaba por alienar e isolar o trabalhador em seu lugar de trabalho. Ele não sabe o que está fazendo e nem o  porquê esta fazendo.  Ele só cumpre ordens. Como pedir a ele, então,  que se importe com o resultado do que faz ? Seria pedir-lhe muito.

"Quanto mais alto a religião do trabalho proclamou suas determinações, menos a produção se organizou em torno dos princípios de iniciativa, de responsabilidade, de engajamento voluntário dos homens"(IDEM).

 O que mais encontramos, contudo, no mundo corporativo de hoje ? Estruturas voltadas para a manutenção dos níveis hierárquicos e  os interesses de poucos.



Em um cenário assim, o que importa a formação ou a capacitação do empregado ? Muito pouco na verdade. A empresa pode até ter um discurso que valoriza o aprimoramento, mas a grande maioria delas  não o premia.
Sim, há muito de esquizofrenia nos ambientes corporativos. Diz-se uma coisa, faz-se outra na prática.

O catecismo laboral é coisa do passado, de uma época em que a gestão se preocupava com controle. Tempo em que ela trabalhava em favor de uma estrutural piramidal de empresa. Hoje, este código é tão fora de contexto quanto o apelo a nacionalismos e à moral religiosa.
Se o trabalho entra em choque com o humanismo inerente a cada um de nós ( a vontade de ser autônomo, de ter um significado em sua atividade que premia e respeita a sua subjetividade), então ele pouco vale. Não há porque pedir que o trabalhor com ele se identifique.



CORTELLA, Mário Sérgio. Lealdade coma empresa ? Revista N Respostas. Ano V, nº 24, outubro/novembro 2012.

LIPOVETSKY, Gilles. A Sociedade Pós-Moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor dos novos tempos democráticos. São Paulo. Editora Manole. 2005.