Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sobre os ditos "descolados"

Existe coisa mais ridícula e enervante do que a presente onda, na qual as pessoas  desejam se fazer passar por "descoladas"?


Pra começar, o tal sujeito "descolado" é, em geral, aquele que  acredita  ser livre de preconceitos e imagina-se  imensamente tolerante com valores e diferenças. Acha-se bom de papo e vende a imagem de ser bem-resolvido.

O problema é que tanta gente hoje tenta se passar por "descolada" que desconfio que se trata de mais um modismo. Algo  como os comportamentos no passado de hippies ou yuppies. Algo estereotipado, falso e que as pessoas seguem, ou mesmo perseguem, de maneira irrefletida por se sentirem angustiadas com a realidade de sermos todos muito menos interessantes do que gostaríamos, e termos, no fundo, preconceitos e coisas mal-resolvidas.

Vamos ser sinceros, não existe  pessoa que seja ao mesmo tempo tolerante, interessante, alegre e bem-resolvida. Aliás, acho que estas características na prática do dia-a-dia se contradizem; muito embora um candidato a "descolado" possa acreditar que possua todas elas.

Na realidade sempre desconfiei de qualquer um que aparente ser um sujeito feliz, bem-resolvido e/ou sem preconceitos.

Conheço alguns casos interessantes: um colega de longa data que tenta vender a imagem de ser um cara  de mente aberta, sem preconceitos, feliz e sempre rodeado de amigos. Na vida privada, contudo,  é um pai ausente, que nem se lembra de falar dos filhos, salvo se alguém perguntar. Quando ainda casado, preferia estar em qualquer lugar, menos em casa com a família. Preciso dizer que era péssimo marido ?
Não por acaso, também se relacionava mal com seus próprios pais,  com seus sogros e com o cunhado. Odiava fazer qualquer atividade sozinho e sentia-se mal em ficar só em casa. Vai ser mal resolvido lá na casa do cacete!

Ah! Havia também um chefe em meu trabalho que fazia o perfil do "descolado" feliz e bem-resolvido. Usava brinco, tinha estilo metrossexual e distribuía sorrisos, conselhos e idéias "inteligentes" pelos corredores da instituição. Por trabalhar subordinado direto a ele percebi que tratava-se na verdade de um sujeito extremamente vaidoso que buscava elogios para si o tempo todo (até mesmo chegava a autofabricá-los no caso de faltar quem o elogiasse). Falava mal dos outros pelas costas,  inclusive utilizando-se do expediente de fazer piadinhas e aplicar apelidos.
Eu, de minha parte,  procurava ao máximo não ter muita proximidade com ele para não ter que ouví-lo em seus exercício orais de auto-promoção e descrédito dos outros. Era constrangedor. Até porque, certamente ele deveria falar com os demais sobre mim.



Há outros casos, mas acredito que estes dois são suficientes  para ilustrar de que estofo são feitos os que buscam desesperadamente mostrar-se mais interessantes, mais inteligentes, mais tolerantes, mais bem-resolvidas do que realmente são. No fundo, essas pessoas são extremamente insatisfeitas consigo mesmas e, portanto,  precisam do consentimento e aprovação alheios a cada instante da vida. Precisam vender a imagem de pessoas legais, compreensivas e alegres a todo momento. Basta cinco minutos de conversa séria com elas para perceber que não passam de gente fútil e cheias de problemas de auto-aceitação. Na verdade, o "descolado" é uma subespécie do tipo vaidoso e egocêntrico, com a diferença que  busca ser popular qualquer preço para levantar a autoestima.

Por fim, se, por este prisma, não ser "descolado" é alguém  que se define fortemente quanto a preferências  e valores, isto é,   alguém que estabelece minimamente hierarquias de desejos e de experiências válidas para si, e que não tenta fingir ser o que não é; então digo claramente que a estes prefiro próximo a mim. Prefiro porque posso até discordar de seus pontos de vistas, mas sinto um chão seguro sob meus pés a partir do qual posso discutir as divergências e apreciar a troca de pontos de vistas. O resto é terreno pantanoso da empulhação.