Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



terça-feira, 26 de junho de 2012

Telefones celulares

Sinceramente, tenho saudades dos tempos em que telefones celulares não existiam.
Ainda que não possua um (já tive um por três anos), fico incomodado pela maneira rápida e acrítica de como  a sociedade se conformou  a este aparelho.  A maioria das pessoas que me conhece se acostumou ao fato de eu não ter um. De vez em quando, porém, alguém me cobra: "E aí ? queria te contar uma coisa, mas não te achei em lugar nenhum. Você não tem celular, pô!". Ou ainda: " Quando é que você vai compra um celular ? Só pra de vez em quando alguém te achar. "
Aí está um dos nós da questão: muitas vezes eu não quero ser achado!
Celulares são caros (bom, pelo menos eu acho!) e as contas são altas (e não adianta falar pouco ou colocar no pré-pago). O pior, entretanto, o que me irrita mesmo, é o fato de que, quando tinha um, não conseguia curtir meus momentos de solidão (no bom sentido do termo, certo ?). Lá estava eu sentado na grama, olhando o vai-e-vem dos pássaros nas árvores, seus gorgeios e ...pimba! O celular tocava!
Outras vezes queria simplesmente caminhar e pensar nas coisas boas da vida, ou em um probleminha que me incomodava e... o celular tocava!


Se pensarmos um pouco veremos que os telefones, em geral, nos proporcionam poucas conversas interessantes (as interesantes mesmo ocorrem pessoalmente). O que eles nos oferecem são acesso rápido a aborrecimentos como vendedores e pedidos de doação. Claro, é muito bom receber a ligação de um amigo com o qual você não falava há muito tempo; ou de um parente; ou, ainda, a lembrança pelo seu aniversário.
Estas, contudo, são, em termos numéricos, minoritárias. A grande maioria é chatice.


Agora imagine você carregar um aparelho em que estas ligações chatas te encontram em qualquer lugar em que estejas! Na verdade, você paga para se colocar à disposição delas: do conhecido chato que não tem nada rico para contar, mas quer conversar; da própria empresa da linha telefônica que te liga  para oferecer pacotes novos de serviços e, é claro, do trabalho. Este último, então, é o sorvedouro de seu tempo. Ligam para saber se você já está chegando, para dizer que o chefe já está entrando na reunião e perguntou por você, ou para perguntar sobre um trabalho que você já disponibilizou pra todo mundo em uma pasta de computador compartilhada justamente para evitar aquela ligação. Isto é, o celular é o caminho mais rápido e seguro para as pressões do trabalho te acharem. E eu ainda pagando por isso ?


Não, não, havia algo errado. Durante três anos tentei manter aquele aparelho, mas cheguei a inevitável conclusão que era mais feliz sem ele. Além do mais, não temos telefone no trabalho e em casa ? Endereço eletrônico ? Pessoal e profissional ? Pra que mais ? Pra que vou me colocar mais à disposição ? Preciso de tempo para mim também, uê!

É muito bom para o sistema produtivo ter as pessoas 24 horas do dia à disposição, mas eu tô fora!
O irônico é que a grande maioria das pessoas não se dá conta disso. Acham anormal quando alguém diz que não tem e não pretende ter celular.

domingo, 10 de junho de 2012

Coisas detestáveis e coisas aprazíveis

Coisas detestáveis: lápis sem ponta; jornal desarrumado; programas de auditório; ter que abrir bagagem na alfândega*; campanha de doação pelo telefone; falta d'água; reunião de trabalho segunda-feira pela manhã, reuniões de trabalho em geral; taxista que pede sua ajuda para encontrar o endereço para o qual você deseja ir; vizinho que adora escutar música alta; coroa metido a garotão; garotão; patricinhas; crianças sem limites; fila dupla; serviço militar; praça de alimentação de shopping; refrigerante em lata dentro da sala de cinema; celular em cinema; pessoas que se acham "descoladas" (seja lá o que isto queira dizer); vendedor(a) que pressiona o cliente a adquirir produto ou serviço; consultores e consultorias; o Fluminense tomar gol nos últimos cinco minutos da partida e perder o jogo; ter seu nome chamado aos berros; ir para o trabalho em ônibus ou metrô lotado; te pedirem para realizar um trabalho ou tarefa com prazo incompatível; ter a saída do elevador bloqueada por outra pessoa; engarrafamento; buzina; restaurante de atendimento demorado; pessoas que se acham mais inteligentes que as demais; último capítulo de novela (tudo acaba previsivelmente bem); pessoas correndo para ver desastre ou acidente; pagode; seriados de TV; o politicamente correto; comercial de celular; propaganda de cerveja; hip-hop, feministas, fila.

Coisas aprazíveis: a primeira xícara de café pela manhã; o pão quente e a manteiga derretida;  ser felicitado pelo seu aniversário; pisar a grama descalço; rever  filme antigo  em dia chuvoso e frio debaixo das cobertas;  filme antigo  com qualquer tempo; ficar deitado olhando para o teto; ficar deitado embaixo de uma árvore e pensar na vida; jogar xadrez com um amigo em casa; levar a namorada para assistir filme em casa; levar a esposa  ao teatro e depois ir a um bom restaurante; brincar com os cachorros no quintal de casa; a felicidade de um cachorro ou outro animal abandonado ao ser retirado da rua; o bolo da namorada; a comida da mamãe; ver um beija-flor; noturnos de Chopin; conversar com amigos de muitos anos;  o Stabat Mater de Vivaldi; ler Machado de Assis, Tolstoi ou Shakespeare na tranqüilidade do lar; ouvir a Cultura FM de São Paulo a qualquer hora do dia; caminhar sem rumo pelo centro de qualquer metrópole; visitar um museu  quando ele está vazio; cinema dia de semana; jogar futebol com amigos e colegas de muito tempo; Petrópolis no inverno; São Paulo em dia de garoa; reencontrar a professora das primeiras séries do ensino fundamental; ir a um café e esperar, sem pressa, que o engarrafamento se desfaça; caminhar pelo Jardim Botânico do Rio; acordar e não ter nada para fazer;  pizza sábado à noite; texto de Shakespeare bem encenado; as cantinas do Bexiga; a chuva caindo sobre o telhado de casa; o barulho das ondas sobre a praia, o emparedado de jamón y queso do Café Tortoni.

* Esta eu tirei de um texto de Fernando Sabino.