Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

É possível a meritocracia em uma sociedade permeada pela cultura do favor ?

O que é meritocracia ? Em tese a resposta parece fácil: dar a cada um de acordo com seus próprios méritos. Dar o que ? Recursos, privilégios, status e reconhecimento basicamente. 

É possível existir algo assim em termos tão ideais ? Basta deter-se um pouco para olhar a realidade e a resposta surge óbvia.  

Até nos Estados Unidos, país que tem em seu DNA o mito da meritocracia, esta é questionada. Cito o livro "O Mito da Meritocracia "de Stephen J. McNamee e Robert K. Miller, Jr (há um link com comentários e trechos do livro http://www.ncsociology.org/sociationtoday/v21/merit.htm).

Bom, mas o que dizer, então da chamada meritocracia em um contexto fortemente impregnado de autoritarismo e clientelismo como é o caso do Brasil ? Ela é possível ? Estaríamos mudando o jogo e permitindo seu surgimento ? Ou melhor, estaríamos, de fato, dispostos a abrir-lhe espaço ?

Não é desconhecido de ninguém, a não ser os mais distraídos ou aos consultores de idéias do mundo corporativo, que carregamos até o presente uma relação não bem resolvida entre sociedade e Estado. Relação contaminada por conteúdos ligados a nosso passado ibérico e escravocrata. Sem entrar em detalhes, sobre os quais não me julgo capaz de me estender, creio que as variáveis citadas tiveram por conseqüência a formação de um entrelaçamento complexo de relações de dependência pessoal, que, por sua vez, gerou a cultura do favor e do "jeitinho". 

De pronto, o surgimento de uma cultura liberal com pretensões democráticas, baseada no pressuposto do mérito, se encontrava bloqueada. 

Ainda que, volto a dizer, meritocracia em termos puros não exista em lugar nenhum do mundo, no caso brasileiro ela sempre encontrou ambiente hostil a sua presença. Os laços de família e de dependência sempre gozaram e gozam de ampla preferência. 

E aí está a questão. O autoritarismo e o favor não se encontram restrito ao Estado, mas antes fazem parte da própria maneira de ser, pensar e agir de nossa sociedade. Errado é imaginar, como muitos faziam nas décadas de 70 e 80 do século passado, que todo autoritarismo provinha do Estado e que a consciência democrática se encontrava ao lado da sociedade. 






A relação simbiótica entre Estado e sociedade faz com que  um  alimente o outro dos conteúdos de uma cultura assaz hostil ao mérito e a iniciativa própria. 

Agora, trazendo isto para o tema do mérito dentro de instituições, como é possível trabalhar anos em locais que pregam  a premiação e o reconhecimento dos "melhores", se elas mesmas, no dia-a-dia, demonstram que o que conta mesmo são os laços afetivos de camaradagem, amizade ou classe social ? 
Como se comportar em relação a seu trabalho, por exemplo, se, após meses ou anos de trabalho duro e correto (dentro da capacidade de cada ser humano e das condições que lhe são oferecidas, é claro!), o que se colhe é indiferença, mais trabalho, prazos menores e/ou responsabilização por resultados sobre os quais não se tem de fato controle ?
Enquanto outros, com menos dedicação e menos tempo de instituição são alçados ao reconhecimento e a premiações ? 

Não é de desconhecimento de ninguém (a não ser aos distraídos ou consultores de RH) que o que viceja nas corporações é a premiação às avessas: a quem sua a camisa, e que não tem capital social: mais trabalho, mais cobranças e  menos consideração. Ou seja, você colhe o oposto do esperado pela teoria meritocrática. 

Não é por outro motivo, aliás, que as pessoas no mundo corporativo, pelo menos aqui no Brasil, valorizam mais o tempo gasto com contatos sociais que possam lhes ser promissores do que com o trabalho em si.  O sonho da maioria destes é conseguir um cargo de gerente ou diretor, onde eles possam ter acesso a reuniões que decidem, mas, aos mesmo tempo, lhes permitam distribuir as tarefas sem que tenham que  "meter a mão na massa". 

Resultado ? O trabalho é visto por todos, todos mesmo, como : 1) castigo; 2) coisa de subalternos e de menos capazes; 3) como algo degradante (algo que, sem dúvida, paga tributo a nossa herança escravocrata). 

Quero ressaltar que muito embora a condição de desigualdade e sua decorrência, o favor, tenham origem em nosso remoto passado, suas atualização e legitimação ocorrem no presente. Desejo deixar isto claro para evitar a crítica corriqueira de alguns que, desprezando o contexto social e herança cultural recebida, negam validade a este tipo de análise por entenderem que aceitá-la seria antes uma confissão de preguiça e fatalismo. 

Não é o caso. Trata-se apenas de não se permitir iludir com apreciações desmemoriadas 
ou mesmo desonestas,  que comentem a injustiça de focar no indivíduo a responsabilidade total pelo seu destino, esquecendo, por conveniência, que as origens de classe, por exemplo, podem jogar um papel fundamental no quanto de facilidade ou dificuldade cada um encontrará pela frente. 











quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A felicidade obrigatória

Não é de hoje que o conflito entre o que somos e aquilo que gostaríamos de ser ( ou aquilo que gostaríamos que os demais acreditassem que somos) se manifesta no cotidiano de todos nós.  Em uns este conflito é periódico, vai e vem; em muitos, porém, é permanente. Fraco para uns, causa algum incômodo e insatisfação; forte e de difícil convivência para outros.

Caminhava por um calçadão pelo centro de São Paulo semana passada. Notei,  com discrição, o semblante carrancudo ou preocupado das pessoas que passavam em sentido oposto ao meu. Não observei exceção a este comportamento. Talvez, por estar a passeio, o meu semblante fosse menos carregado (não que eu saia sorrindo pelas ruas, muito pelo contrário!).
Observei no canto da calçada um grupo sorridente. Três jovens moças sorrindo. Que novidade! Olhei melhor e percebi o motivo pelo qual sorriam: havia uma câmera de TV ligada em direção a elas. Uma repórter se dirigia com microfone em punho em direção as sorridentes mulheres.

Sorriam por que estavam para aparecer na televisão ? Provavelmente. Por que mais seria ?

Como as maioria das pessoas faz,  acredito que elas se achavam na obrigação de por a máscara da felicidade naquele momento instântaneo de fama. Quando sabem que sua imagem tem a chance de ser apresentada para outros,  muitas pessoas tenta mostrar a si como alguém sorridente e feliz. Isto é quase uma lei do comportamento humano moderno (ou seria pós-moderno ?).
No dia-a-dia, porém, as pessoas são muito diferentes.

O que está por trás dos sorrisos televisivos é a obrigação de ser feliz, ou, pelo menos,  aparentar felicidade. Temos que nos mostrar não só competentes em todos os ramos da vida social, como ainda nos cabe, de sobra, a obrigação de sermos felizes. É mole ?

E só entrar na internet para observarmos a impostura quase que ao primeiro clique. Lá está ela nas redes sociais (que odeio, diga-se de passagem, não pelo seu potencial, mas pelo uso real da mesma). Nas postagens de blogs também ela se faz presente ( todo mundo é PhD no assunto em debate e tem as melhores e últimas informações).

Os jornais e revistas, então ?  Deixaram de ser fonte de informação há muito, e se tornaram difusores de notícias inúteis e banais, mescladas com fotos de gente famosa sempre sorrindo como se o mundo fosse uma comêdia pastelão.

Por falar em comêdia, não vamos esquecer de citar o cinema, as comêdias românticas em particular, que de gênero leve e sensível (basta assistir Bonequinha de Luxo) tornou-se abundante e imbecilizante. Qualquer diretor com pouco talento faz uma. O cinema nacional e o estadunidense têm sido mestre em aproveitar o hábito de boa parte do público cinéfilo em utilizar  poucos neurônios de cada vez (talvez para não gastá-los rapidamente)  e produzem em quantidade abusiva filmes com temâticas idiotas. Alguns fazem pouco caso de nossa inteligência com situações previsíveis, exdrúxulas, banais e mesmo vulgares que eles acreditam serem engraçadas e interessantes.

A campeã, entretanto é a internet. Lugar onde pessoas diminuídas e com complexos buscam no olhar alheio e em palavras insinceras um motivo para se auto-valorizarem.

O risível de uma rede social é o fato que todos estão preocupados em se mostrarem, mas quase ninguém tem tempo ou paciência para ver. Daí, aquela foto "sensacional"que X postou em sua página para a "galera" ver, vai receber meia-dúzia de comentários tipo: "legal", "que bom, hein?", "onde foi, cara ?" Nada gratificante na verdade.

Seja na televisão, nas revistas, nos jornais ou na internet, a presença da felicidade como obrigação se faz presente. É quase que um comportamento facista. Experimente retratar sua vida em um rede social tal como ela realmente é, com preocupações, erros, insegurança, momentos de felicidade e tristeza. Ouso pensar que ninguém irá convidá-la para  ser seu (sua) amigo(a). A realidade é chata.

E assim, a vida autêntica vai desaparecendo, sorvida pela imbecilidade da maioria.



 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Fatos que não se discutem por serem politicamente incorretos

Assisti recentemente mais um daqueles programas de TV pública, portanto financiados com nosso dinheiro, que faz apologia a ideologias estranhas à nossa cultura e História.

Tratava-se da entrevista com um "militante" do movimento negro e um acadêmico (daqueles que se vendem a quem esta no poder) sobre o que ? O dia da Consciência Negra, Zumbi dos Palmares, resistência negra...arrff!

Já sabia o que iria ouvir. O mesmo blá, blá, blá sobre dívida histórica com os negros (ou serão pretos ?), a vitimização de todo um "povo" (que povo ?) trazido da África por obra  de gananciosos europeus brancos (os vilões), e por aí vai.

Muita pobreza de análise com o desenrolar do programa. O mundo dividido entre vitimas e algozes, claramente delineados. A entrevista, de resto, seguia  o previsível de sempre:  a necessidade de "resgatar"(palavra ridícula) a população negra e"pagar" a dívida social que temos com ela.

Fiquei a pensar, será que algum dia o debate inteligente emergirá no espaço público ? Ou ficaremos reféns para sempre do politicamente correto, que serve, apenas, aos desonestos e aproveitadores ?

O politicamente correto é utilizado por gente mal-intencionada. Seu objetivo no campo dais idéias é silenciar quem pensa diferente ou mesmo aqueles que aderem somente a uma parte do argumento.   Ele é utilizado para silenciar vozes. Empurra-se grande parte das  pessoas para fora do debate  público lastreado na livre troca de argumentos  .

Em busca da "justiça social" não há espaço para um ambiente democrático. O resgate de "milhões" não pode esperar o amadurecimento das idéias fruto da troca livre de posições ideológicas diferentes.

Soa familiar ? Parece que já vimos este filme ? Sim, para quem conhece um pouco de História. Sabemos qual o resultado do discurso pretensamente moralista e correto: o aniquilamento social, psíquico e físico de quem tem opinião própria. Algo parecido com aquilo que os bolcheviques fizeram na Rússia pós-revolucionária, ou Fidel faz em Cuba.

Você não concorda que as mulheres são as vítimas exclusivas histórica de nossa sociedade machista e patriarcal ? Não acha que os negros (pretos) merecem direitos especiais por conta de uma escravidão que terminou há, deixe-me ver, 125 anos (cinco ou seis gerações atrás) ? Acredita que, no ocidente, devemos dar aos imigrantes de países com outras crenças e  costumes espaço para que vivam como se em seus países estivessem, mesmo sabendo que lá nos países deles este direito nos seria negado ?

Se respondeu "não" a pelo menos a alguma das perguntas acima, você pode ser enquadrado como um nefasto conservador ultramontano que se apega a preconceitos paroquianos em detrimento de uma vida plural e democrática.

Será que a realidade é assim, dicotômica ? Bons e maus ? Vítimas e algozes ? Ou será mais complexa e cheia de matizes ?

Será que os africanos foram exclusivamente vítimas do odioso comércio de vidas humanas que cruzava os oceanos ? Ou será que muitos deles se beneficiaram também ?

Até onde sei muitos impérios  e civilizações africanas  se mantiveram por meio da exploração do comércio atlântico e índico de escravos. Ou seja, tinham interesse em sua manutenção e ampliação. Tanto foi assim, que, com o fim do comércio de escravos por volta de 1850 (iniciativa européia), as civilizações africanas que dele auferiam vantagens entraram em colapso*.

Não gosto de racista nem racialistas, mas odeio, sobretudo, os oportunistas que ganham com o discurso racial. Aqueles que distorcem as coisa a seu bel-prazer. Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU de 1948, raças não existem. O ser-humano é único. Pois agora, este mesmo documento é interpretado como "um marco na luta pela igualdade racial e combate ao racismo". Como ?

Por outro lado, e os  indígenas, acaso não foram escravizados também ? Eles são atendidos pelas políticas que buscam dar apoio aos "negros"? Não que eu saiba.

E o que é ser "negro" em um país mestiço ? Ou será que descobriram irrefutavelmente que somos um país dividido apenas entre brancos e negros que se digladiam há séculos ? Teremos que trocar as análises de nossos clássicos da Sociologia e  História por raivosas interpretações ?
Faço minhas as palavras de Ali Kamel: "Estão a falar de outro país. Este não é o Brasil."

Não nego que a sociedade brasileira tem sido preponderantemente machista e misógina. Medidas para mudar foram e têm sido tomadas no campo legal e mesmo no de costumes. Ora viva!
Entretanto, as mudanças tem sido norteadas muitas vezes por uma visão, ao meu ver, oportunista. Caminhamos rapidamente para uma situação misândrica.  O Homem, independente de origem, posição, valores e comportamento tornou-se o inimigo. Senão, qual o sentido de leis e direitos especiais para as mulheres ?  Alguém poderia me convencer por que as mulheres têm o privilégio de trabalhar cinco anos menos que os homens ? Acaso, nas rápidas mudanças sociais que correm, muitos homens não possuem a chamada "dupla-jornada"também ?

Muitos homens também não são vítimas de violência  em casa ? De violência psicológica principalmente ? É claro que sim. Há estudos a respeito ? Não que eu saiba.
Quem iria tentar apresentar à uma banca universitária uma dissertação (em geral dominada por um pensamento de esquerda nada dialético), ou realizar um estudo para subsidiar políticas públicas com base em dados que contrariem interesses fundados no discurso politicamente correto ?

Fato é que você olha hoje as políticas públicas em nosso país e observa que grande parte dela é apropriada pelas "minorias exploradas"com base no discurso politicamente correto que endemoniza parte da população de forma a criar antagonismos alienígenas a nossa tradição social e histórica. É esta atitude que está na base da justificativa das "políticas especiais" para as mulheres, as eternas vítimas dos homens, o macho é um ser dominador e perverso. Como se as mulheres fossem formadas em seu conjunto por santas.

A visão de uma mulher com o rosto e cabeça cobertas me passa a viva percepção de uma pessoa oprimida. Na verdade, mais que me choca, me agride. Sou filho de uma civilização que lutou séculos para livrar-se de comportamentos opressivos e privilégios. Não me peçam para compreender a burca ou o  véu como coisas normais dentro de certos contexto sócio-culturais, ou como livre-arbítrio de mulheres que optaram por adotá-lo. Não é porque o escravo se acostumou com o chicote que irei louvar a ambos.

É óbvio que o fato de ter que cobrir parte de seu corpo enquanto a outra metade da população, a masculina, está livre para não  fazê-lo, traduz um ambiente familiar e social opressor.
Neste sentido, a proibição do uso de véus ou burca nas escolas francesas me pareceu acertado.
Se no Afeganistão, Irã ou outro país em que o islão é majoritário, uma mulher não deve e não pode sair à rua sem o uso de tais apetrechos, independente de ser nativa ou não; cristã ou muçulmana, por que devo, então, ser tolerante, em meu país, com os símbolos da intolerância ? Que se dane o tal pluralismo cultural (outra invenção do politicamente correto e que só tem ocasionado mal-entendidos e embustes), em meu país quero que os valores e símbolos expostos sejam debatidos e questionados publicamente sem apriorismo e pré-conceitos de uns quantos que se julgam democratas ou melhor pensadores que outros.
Quem se acha imbuído de forte sentimento em prol de minorias religiosas, que vá defender cristãos e budistas em países de maioria muçulmana. Ganhará, pelo menos, meu respeito.








* Mesmo assim, o comércio de escravos na própria África continuou por algum tempo em escala  menor. Bem entendido, a atividade de africanos escravizarem africanos continuou até o século XX. Portanto, nada a ver com uma imposição européia sobre aquelas culturas. Aliás, quando os europeus chegaram a África subsaariana, o comércio de escravos já era uma realidade há milênios. O que eles fizeram foi ampliá-lo e colocá-lo sob seus interesses. 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Soldados de Salamina

Terminei de ler recentemente a obra de Javier Cercas intitulada Soldados de Salamina. Devo dizer que foi um das mais prazerosas leituras que fiz  nos últimos dois ou três anos. Você simplesmente quer ir adiante na leitura.

Cercas escreve de maneira inteligente e cativante. O texto tem um viés humano muito forte por narrarda tarefa de um personagem de resgatar a memória de um evento ocorrido sessenta anos antes, durante os últimos dias da Guerra Civil espanhola (1936-1939).


O escritor/jornalista responsável por fazê-lo, o próprio autor,  mergulha na busca do sentido de um  episódio efêmero daquele momento histórico: o motivo elo qual um soldado republicano permitiu  que um inimigo seu  continuasse vivo após tê-lo sob a mira de sua arma ? O mais inquietante é que o prisioneiro não era alguém  de menor importância, mas sim Rafael Sánchez Mazas, um dos fundadores e mais proeminentes ideólogos da Falange Espanhola, organização política conservadora adepta da derrubada da  república.

A tentativa de entender este episódio marginal na luta civil espanhola leva Cercas a buscar documentos e pessoas. Sua busca é a de reconstruir aquele momento pela narrativa dos participantes e documentos de época.
O que permitiu a um viver e, a o outro, perdoar ?

Tarefa nada fácil pois o único relato escrito fragmentado sobre o evento é o do escritor falangista. Não há como (re)construir a história com a versão de apenas um dos personagens. Os relatos orais das poucas  pessoas vivas que participaram, ainda que indiretamente, daquele episódio e os poucos documentos sobre a vida de Sánchez Mazas encontrados trazem novas indagações e dúvidas: Em primeiro lugar, os documentos são incompletos e falam de outros momentos da vida de Mazas. Por outro lado, as falas das pessoas que conheceram o poeta falangista no contexto pesquisado são contraditórias em muitos pontos.   Diferentes relatos jogam ênfases distintas em momentos discordantes do episódio e, além disso,  como os documentos escritos, são fragmentados.
Do mesmo modo, ao ouvir o relato dos indivíduos sobre aquele episódio, Cercas percebe que tem que levar em consideração que o narrador pode ter esquecido ou omitido algo propositadamente.
As pessoas rememoram o que desejam. Esquecem o que lhes é inconveniente. Deste modo, a memória sempre é seletiva, ela joga luz sobre alguns fatos, distorce outros e esquece uns tantos.
Como, então, reconstruir o que realmente aconteceu a partir da noção particular de cada um sobre o evento ? É possível ?

O que Cercas percebe é que rememorar  um fato implica por parte do investigador um posicionamento ativo, não neutro, de selecionar e eleger o que pode ou provavelmente é verdade, de um lado,  e o que são leituras parciais, distorcidas ou omissões, de outro.

Além disso, como somente duas pessoas participaram da cena descrita pelo escritor falangista (ele próprio e o soldado republicano) e a versão de um deles (no caso, a do soldado) não é mais possível ser reconhecida, não há maneira de se obter o sentido último do ato. Ele está perdido para sempre, só se pode tentar reconstruí-lo sabendo-se, de antemão, que a peça final que completaria o quebra-cabeças não será nunca conhecida.

Cercas pensa em desistir da busca, mas o encorajamento por parte de sua namorada (uma pessoa em tudo diferente dele) e de um escritor chileno que ele conhece mais tarde fazem com que ele retorne ao projeto.

A partir daí um outro personagem, muito interessante, entra na narrativa: um ex-combatente catalão que tomou parte na Guerra Civil Espanhola e na Segunda Guerra Mundial. E com ele que Cercas buscará mais uma vez  obter o sentido final do episódio descrito na narrativa de Sánchez Mazas.
Confesso que a parte final do livro, a conversa entre Cercas e este combatente (cujo nome era Antonio Miralles) é de uma sensibilidade e riqueza que a torna a parte mais interessante da obra (bom, pelo menos para mim).

É curioso perceber também a trajetória de Sánchez Mazas após a  vitória das forças que se opunham à república. Ele experimenta rapidamente o desencanto com a política e a vida pública.  Enquanto lutavam contra comunistas, socialistas e anarquistas os slogans e bandeiras da Falange eram de serventia. Após a queda dos republicanos os principais membros da Falange foram alçados aos altos cargos do novo regime, mas sem poder efetivo. Sánchez Mazas mesmo foi ministro de Estado por algum tempo, até perceber que os ideais que levaram sua organização a lutar ao lado de Franco foram postos de lado em prol de um governo puramente pessoal e autoritário. Mazas é removido do cargo poucos meses após a vitória. Por esta época já abandonara completamente a vida pública. Viveu mais alguns anos como escritor, mas nunca mais teve a projeção de outrora. Pouco tempo após sua morte sua obra foi esquecida.

O  livro ainda traz os problemas pessoais e existências vividos por Cercas e Sánchez Mazas. Creio que Cercas  quis demonstrar, e o fez com competência, que por detrás daquelas páginas magnificamente escritas, tanto o autor do livro, como o poeta falangista instigador da narrativa, são pessoas de carne e osso, com problemas em tudo parecido com os nossos (desencanto, insatisfação, perfeccionismo e mesmo falta de dinheiro em alguns momentos).

Sei que há um filme baseado no livro. Cercas mesmo foi convidado a ler o roteiro e aprovar algumas modificações. Confesso que, após ler o livro, ainda não me decidi em ver o filme, mas acho que o farei um dia).





domingo, 23 de junho de 2013

Esquerda e direita trocaram de lado nas recentes manifestações de rua no país.

Poucas coisas são mais odiosas que a tentativa de alguém de usurpar o mérito de outrem ou buscar desqualificar uma iniciativa com adjetivos e rótulos fáceis e desgastados.

É o que observo nas recentes manifestações de rua que ocorrem em várias cidades do país.

Devo dizer que as acho positivas e salutares. É claro que tem alguns que entram nesta pelo oba-oba de maneira pouco refletida.  São aqueles que nunca participam de um evento de tamanha magnitude e pouco sabem sobre o que reivindicar. Dizem e escrevem coisas  em termos genéricos,  críticas fáceis e padronizadas como o "abaixo corrupção", ou o ridículo "ou param a corrupção, ou paramos o Brasil".  São  pessoas que se informam principalmente pela grande mídia e têm dificuldade em formular um pensamento ou mesmo uma idéia próprios.   Sim, eles também estão nas manifestações e em grande número, mas acredito que, se não forem acomodados demais, este momento trará algo de experiência para eles(as).

Há ainda  outros que participam  para dar vazão a sua índole destruidora de vândalos e aproveitadores do anonimato de multidão. São os piores, porque nada contribuem para aumentar a consciência e a participação social. Muito pelo contrário. Eles esvaziam as manifestações afastando pessoas mais interessadas em contribuir para seu país.

Nada disso, entretanto, tira o mérito das reivindicações e da mobilização.

Bom, mas a questão que desejo discutir é o posicionamento de setores da mídia e dos governos em relação as manifestações.

Deixo claro que não vou tentar fazer discurso acadêmico ou prever o que irá acontecer. Não tenho formação acadêmica suficiente  para tal. Na verdade, dada a imprevisibilidade e atualidade dos fatos, duvido que alguém honestamente saiba o que está acontecendo em toda a sua magnitude e conseqüências.

Em primeiro lugar, existe um carona presente nas manifestações.
O carona , como sabemos, é aquele que não paga os custos de chamar, organizar e manifestar-se, mas deseja tirar proveito do esforço alheio.

A grande mídia em boa parte tem feito justamente isso.
De início alheia ou contrária as manifestações, passou a enxergar nelas um meio de atacar politicamente o governo federal. E como o faz ? Como sempre o fez: interpretando os fatos de acordo com seus interesses, alheio as interpretações que os protagonistas principais fazem do evento.
Senão vejamos. As manifestações, até onde sei, nasceram de protestos contra a péssima prestação de um serviço municipal em várias  cidades. Rapidamente evoluiu para outras pautas que, a meu ver, têm como centro uma difusa insatisfação com a classe e o sistema político do país e com a qualidade dos serviços prestados pelo Estado nas três esferas de governo.

Pois bem, a grande mídia e os setores contrários a presidente do país  aproveitam-se do momento para tentar focar o governo federal, ao qual sempre se mostraram hostis. Tentam dar a pauta dos manifestantes interpretações próprias  como um sentimento generalizado de desgosto voltado prioritariamente contra o governo federal. É só ler a grande mídia:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,em-inferno-astral-dilma-testara-novo-estilo-de-governo-para-salvar-reeleicao,1045912,0.htm.

É falso. É falso porque as palavras de ordem não focam somente este ou aquele nível de governo ou poder. Não, sobra insatisfação para todos os lados (legislativo, executivo e judiciário municipais, estaduais e federais).

Existe, porém, o outro lado. A imprensa que se diz de esquerda e o governo federal, que tentam esvaziar as reivindicações taxando-as de carentes de conteúdo, confusas, inconsistentes e por aí vai.

A meu ver, fazem pior que os chamados setores "conservadores"* da mídia e da política.

Deste outro lado do campo temos uma revista  que possuía até pouco tempo atrás  posições e análises sérias e equilibradas. Mas  o  que seu blog de discussões publicou sobre as manifestações foi decepcionante:

http://socialistamorena.cartacapital.com.br/quem-comanda-os-arruaceiros/

Creio que opiniões, como a do blog acima citado, espelham a situação da chamada esquerda no Brasil. Em prol de um exercício real de poder, ela se acercou de um discurso formalmente democrático, mas  foi buscar aliados nos setores mais atrasados do espectro político.

Alianças com figuras públicas  de duvidosos serviços prestados à nação (Renan Calheiros, Collor de Mello e José Sarney, campeões indiscutíveis do que há de pior em nossa política) se tornaram práticas comuns e desejáveis para a manutenção do poder.
O que a esquerda nunca perdeu, entretanto, foi seu ranço totalitário1. Isto ela até hoje acalenta. Quando no poder desfez-se de boa parte  de seu conteúdo progressista de tempos passados. A forma de ver e exercer a política moldada ao longo do tempo em estratégias jacobinas e bolcheviques, porém, continuam. Quem não é aliado deve ser esmagado .

Ao tentar desqualificar as manifestações percebo o rancor e mesmo o ódio a tudo que escapa ao controle dos arautos "de um mundo melhor".  Ao se darem conta que não foi gente sua que organizou as marchas pelos centros urbanos, a esquerda entra em crise: "como pode ?".
Ao surgem os velhos discursos com roupagem nova. Aqueles que falam que tudo que não vem do partido é ruim, conservador, alienado, inconsistente, ou pior, tem gente mal-intencionada por trás (termo atual para contra-revolucionário).

A esquerda tem uma dificuldade em ser democrática de conteúdo. Pode até se dizer democrática, mas é em  momentos assim que ela se revela.
Enquanto os ditos conservadores da democracia se aproveitam, a esquerda sempre tem dificuldade em exercê-la plenamente. Seu pressuposto, o de que é a portadora única das boas-intenções, a incapacita de ver razoabilidade no discurso e prática alheios. Melhor rotular os discursos de outrem com fáceis etiquetas de identificação: "alienado", "inconseqüente", "arruaceiro", do que fazer o esforço de entendê-los. Cole um etiqueta em alguém ou em um discurso e me desfaço da necessidade de escutar e compreender.

Quem diria que, havendo manifestações por direitos e melhorias sociais, mesmo que com agenda difusa e pouco clara, a dita esquerda se posicionaria contra e seus adversários se mostrariam favoráveis ? O mundo mudou muito mesmo nos últimos trinta anos.

* Se bem que conservadores estão presentes  tanto na oposição quanto na base do executivo federal no Congresso e  na mídia. E só ver de que lado estão Rede Record, José Sarney e o pior do PMDB de um lado e; de outro , Rede Globo, Estadão e DEM. 

Existem diferenças entre totalitarismo e autoritarismo. A esquerda, em geral, é totalitária, isto é, busca o controle total sobre a sociedade e a opinião pública por intermédio de uma constante mobilização ideológica com base em um partido político. Já os sistemas autoritários tendem ao controle social com base na despolitização e apatia social por meio, entre outras coisas, da  eliminação dos partidos como mecanismos de expressão da vontade  popular. Os regimes de exceção latino-americanos seguiram, grosso modo, o modelo de regimes autoritários. Os regimes comunistas e nazi-facistas são exemplos típicos de sistema totalitários. Ver Arendt, Hanna. As Origens do totalitarismo


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Você conhece alguém assim ? Eu acho que sim.

Quem não conhece este tipo ? Ele te liga ou manda uma mensagem por correio eletrônico, pedindo para almoçar ou tomar um café com você. Chegado o momento, o sujeito se desmancha em falar de si o tempo todo. Ele é o personagem principal de todas as suas narrativas.
Mesmo quando, de início, parece falar de um assunto distante (um fato político ou esportivo; ou ainda sobre um evento que irá ocorrer), ele dá um jeito de se colocar no centro da discussão.
Não adianta, o cara precisa de seus ouvidos, foi por isso que te convidou. Você, mais uma vez caiu na armadilha. Ele está precisando ter seu ego massageado, nem que seja por ele próprio, e precisa de audiência.

Confesso que agora fujo destas pessoas como o diabo foge da cruz. Às vezes pergunto a mim mesmo: "Como pude agüentar ?" ou ainda "Eu já fui bom." Sim, porque eu já conheci um bom número de tipos assim. Aliás, como eles abundam, não é ? Talvez eles sejam mais comuns do que aqueles dispostos a lhes dar atenção.

Uma característica comum dos indivíduos que falam o tempo todo de si é que eles tentam convencer a si mesmos de que são tudo o que dizem. Para isso, entretanto, eles precisam de outra pessoa.  São tipos fundamentalmente com problemas de auto-estima. Tentam se mostrar seguros, mas são de uma fragilidade evidente.



São egoístas também porque sequer lhes passa pela cabeça se perguntarem se o outro também necessita falar-lhes algo, partilhar alguma coisa. Não, não estão interessados.
Quando alguém tenta lhes dizer uma coisa que escapa as suas auto-centradas narrativas, mostram-se desinteressados ou até hostis.

São também competitivos, se bem que esta características eles dividem com os babacas (outro tipo do qual quero distância).
Uma vez eu estava na fila do caixa de um restaurante e um destes indivíduos estava comigo. Após passar mais de meia hora falando sobre si ( e eu louco para me mandar) ele olhou para meu cartão, com o qual eu faria o pagamento, e disse, sacando o seu: "o meu cartão dá milhas em dobro para meus gastos. Meu limite de crédito é bem superior a este que você tem."
Decidi que dali por diante não perderia meu tempo com aquele sujeito. Paguei a conta o mais rápido que pude, inventei uma desculpa e o deixei ali mesmo na calçada com um rápido aperto de mão. Sai me culpando por, mais uma vez, ter dado a chance a um ser como aquele de tentar fazer-me sentir insatisfeito comigo.

Indivíduos assim têm a auto-estima tão baixa que, para se sentirem bem, têm que tentar rebaixar a do outro.

O sujeito volta e meia tenta ainda me convidar para algo, mas nunca mais lhe dei outra oportunidade. 
Talvez eu devesse ser sincero e dizer-lhe para não me convidar mais para seus bate-papos ( que quase são monólogos), pois ele é o tipo de pessoa pela qual tenho desprezo.

 A questão é que está cada vez mais difícil evitar pessoas assim. Nosso mundo produz uma quantidade enorme deles por dia. Sim, pois é só olhar os comercias de TV e propaganda de revistas e perceber como seus discursos funcionam.

Eles reforçam cotidianamente complexos e sentimentos de inferioridade que só serão vencidos (momentaneamente) se a pessoa adquirir o produto tal ou se comportar igual ao fulano ou fulana (que teoricamente são pessoas bem sucedidas).
Bem, mas isto é outro assunto.

domingo, 28 de abril de 2013

A feudalização das políticas públicas: o caso do setor cultural.

É escandalosa a maneira como o Estado brasileiro se coloca a serviço de poucos.
A área da cultura, apesar de pouco visível dada sua dimensão orçamentária reduzida frente à outras, não deixa de ser um exemplo marcante.

Comecemos com o fato de que as secretarias de cultura estaduais e municipais em grande parte (para não dizer na maioria das vezes) são dadas como prêmios de consolação a políticos com pouco cacife para que nelas coloquem seus apaniguados.
E quem são estas pessoas ? Indivíduos com nenhuma ou pouca vivência na área cultura em sua maior parte. Gente sem a mínima noção do valor simbólico e econômico do setor que irão gerir.

Ora,  mas é assim no próprio Ministério da Cultura. Este foi recentemente dado como compensação a uma militante política que tinha pretensões a concorrer a um cargo eletivo da prefeitura da maior cidade do país. A cúpula do partido, porém, decidiu-se por outra pessoa, mas, para não haver rusgas, deu-lhe este ministério como gesto de afago (e também como instrumento para catapultá-la a concorrer na próxima eleição).
Antes dela, o ministério estava nas mãos de uma artista que ninguém tinha ouviu falar e cuja maior virtude era ser irmã de um conhecido cantor e compositor adepto do partido no poder.
Três governos atrás, o ministro era um intelectual oportunista que fez campanha para um candidato à presidência da república, mas aceitou ser empossado no governo do vencedor do pleito.
Como esperar algo melhor de estados e municípios ?

Falta balizamento legal a área. Diferente da Educação e Saúde, por exemplo, que possuem um norte em termos de Lei de Diretrizes de Base da Educação e da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/1990) a área da cultura fica ao Deus dará, isto é, depende, e muito, das conveniências do momento e da capacidade e interesses do gestor máximo do setor (ministro, secretário estadual ou secretário municipal da cultura).
Cada novo dirigente que chega, cria novas prioridades e novos programas (e paraliza aqueles da gestão anterior). Os programas e projetos não são intitucionalizados.

Para se ter uma idéia da feudalização da área cultural nas mão daqueles que deveriam dirigí-la para os interesses coletivos, basta lembrar o que ocorreu há poucos anos, quando em recente gestão do Ministério da Cultura, o Conselho Nacional de Cultura era formado, pasmem, pelo ministro da Cultura e pelos dirigentes da entidades vinculadas ao ministério (FUNARTE, Biblioteca Nacional, Casa de Rui Barbosa e outras). A sociedade não possuía um único representante no conselho.  Este fato passou quase despercebido por anos. Os dirigentes decidiam, sem consultar a ninguém, o que seria financiando com recursos públicos, quanto teria a disposição e quando seria financiado. Não foi à toa que o então ministro da Cultura era o servidor público com mais horas de vôo e mais passagens aéreas em todo o governo*.
Só posso imaginar o que se passa junto a estados e municípios.

O quadro técnico das instituições que lidam com cultura é formado por quase tudo, inclusive técnicos.
Os salários são baixos (os mais baixos do serviço público) e a qualificação e o treinamento como rotina de melhoria de gestão é inexistente na maioria delas e deficiente nas demais.

Sem contar o número de cargos de confiança que é gigantesco, temos que levar em conta ainda que a volatilidade na troca de dirigentes é imensa. Há diretores e secretários que não duram uma ano. Há casos de ministros que também não passam de uma ano de exercício.

O que resulta disso tudo ? Instituições frágeis, com pouca capacidade técnica e iniciativa.  Fácil presas dos interesses privados.

Como escrevi acima, o orçamento é pequeno frente às demais áreas de políticas públicas, mas mesmo sendo "pequeno" ele representa R$ 3 bilhões para o ano de 2013 (mais ou menos US$ 1,5 bilhão de dólares) somente na área federal. Estados e municípios juntos devem mais que dobrar este orçamento.
Quem trabalha com cultura sabe que este orçamento, embora "pequeno", se aplicado com eficiência, gera muito retorno em termos de promoção, exposição e valorização de nossa cultura.
Os recursos financeiros, entretanto, se encontra historicamente fora do controle da sociedade que negligencia o setor por acreditá-lo de pouca importância.
Enquanto isso, dirigentes o utilizam como meio de promoção pessoal, acreditando que a pouca visibilidade que o setor inspira os torna imunes a problemas.


* http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/historico/1999/5/zn05159.htm.

   http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR51766-6009,00.html.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sobre um velho tema: a ineficiência do Estado Brasileiro

O tema não é novo. Muito pelo contrário. Não pretendo acrescentar nada. Não mesmo, mas sim fazer um desabafo.

Trabalho em órgão público e assisto todas as semanas ao desperdício de recursos públicos (financeiro, material e de tempo) com ações mal-planejadas, não-planejadas e improvisações.

E simples assim: maioria dos cargos de dirigentes em mãos de gente incompetente, sem nenhum conhecimento técnico mínimo (o mínimo do mínimo, sabe ?) e que sai a dar ordens como se estivesse pedindo a um serviçal para ir comprar pão na esquina.

Não conhece nada de legislação, prazos mínimos, instâncias pelas quais a ação ou iniciativa vai ter que passar para ganhar aspecto de política de governo ou de Estado. 

Você tenta explicar e é imediatamente visto como um burocrata, enrolador, preguiçoso, do contra e outras coisas mais.

Se no governo federal é assim, tenho até receio de imaginar como ocorre nas repartições públicas estaduais e municipais.  

Quanto mais local o governo, mais influências as decisões políticas obscuras  e pessoais possuem peso. O diretor ou coordenador de uma área, que é irmão de um vereador,  que foi colocado ali para dar sustentação política ao prefeito, e que entende tanto de área que dirige quanto um cacique bororó entende de navegação de alto-mar vai decidir o que ?

Nós pagamos estas ineficiências, com muita, muita carga tributária.
Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), trabalhamos cerca  de 150 dias para pagar tributos que, pasmem,  são mais de 60. 
Claro que cada um de nós não paga todos, mas pagamos muitos e da pior maneira pois só recentemente foi aprovado Projeto de Lei que torna obrigatório a descrição em produtos e serviços dos impostos. A lei valerá a partir do meio de ano de 2013.

O volume exorbitante e a quantidade irracional de tributos afeta negativamente o fluxo de caixa das empresas. São tantas datas diferentes para recolhimento das obrigações com o fisco que as empresas maiores têm que manter órgão exclusivo para tratar da observação dos prazos e recolhimentos. 
As menores, coitadas, o(s) dono(s) têm que despender uma  parte considerável de seu tempo para manter tudo em dia e não ser alvo de multas pesadas e achacamento de fiscais mal-intencionados. 
Imagino aquele dono de pequeno empreendimento que, mesmo fazendo tudo corretamente, pagando tudo em dia,  sofre durante anos e  cotidianamente o assédio de mendigos e pessoas menos favorecidas, que, teoricamente, seriam os elegíveis para ações sociais do Estado que o comerciante sustenta.

Aí vemos os governos, sempre com medidas meia-boca de desoneração aqui e ali, com estímulos pontuais aqui e ali, visando responder a questões de momento (perda de competitividade de um setor no mercado externo, por exemplo), mas sempre sem  uma resposta duradoura e estrutural para o problema do excesso de tributos e legislação e para a baixa capacidade do Estado em responder a sociedade que, sejamos realista, pouco exige e possui também culpa no pedaço.

Por falar em legislação, este é outro escândalo. O Brasil produz tantos instrumentos legais, que ninguém pode estar totalmente seguro em relação ao seu negócio. Da noite para o dia sai uma portaria, um decreto, e seu negócio se encontra agora irregular pela inobservância de algum detalhe. 
É um inferno para alguém que gostaria de se preocupar com sua atividade produtiva. 
O sujeito tem que estar de olho nos estoques, no caixa e na legislação que muda ao sabor das conveniências de quem esta com as rédeas na mão. Legal, né ?*

Aceito o argumento que há falhas de mercado nas quais o Estado tem que atuar. As próprias sociedade hoje, no mundo, exigem que ele se faça presente em atividades que, de outra forma, ficariam desassistidos. Não voltaremos ao Estado Mínimo em termo de Estado Ideal. 
O que não pode, ao meu ver, é usar o argumento que o Estado deve atuar em amplos setores de nossa sociedade desigual para inchar as máquinas administrativas federal, estaduais e municipais de gente mal-intencionada e incompetente, com programas e ações mal-formulados e mesmo desnecessários.

Uma vez li, já há alguns anos, em documento de governo, que só na área de Assistência Social, o governo da época mantinha mais de trinta ações prioritárias (só as prioritárias, hein ?). 
Isso é um tapa na cara da sociedade brasileira. Qual a lógica de tantas ações prioritárias ? Simples, criar necessidades urgentes de novas estruturas de cargos e gastos para por gente pra dentro. 

O argumento é verdadeiro: quanto menos tributação e legislação inútil, mais empregos, melhores salários. É simples assim. O resto é sofisma.



* "Quanto mais leis, mais meios interpretativos, mais brechas aparecerão no tecido normativo estatal (não é sem propósito que a lei utiliza expressões polissêmicas que admitem as mais variadas interpretações), facilitando a impunidade e por conseqüência, estimulando os corruptos de plantão."
http://jus.com.br/revista/texto/3477/a-inutilidade-das-leis-em-demasia#ixzz2JYxSSkKt
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

What I disliked about my previous work

Well, for God's sake I'm on vacation! I really need a rest after all that has happened im my job in the two previous years.

You know, I now see that this period of time, in professional terms,  as a completely waste of time!

I''ll try to be more specific. 

During this time I was surrounded  by the most unreliable people I have ever seen in my life. People who make your job more difficult by promoting gossips about everybody else, including me. As one have written "unreliable people can ruin the reputation of reliable ones". That's a fact!  
Dubious persons exist everywhere, I know, but in my job  there was a half-and-half per square inch.

You did a good job ? Not a mention. There's some missing or incorrect data in the document you have rushed to write in the short time you have been given to do so ? Easy criticism rain down on your work.
The criticisms come mainly from the ones who always put themselves in a doing nothing position , but with real taste for criticism.
I had a boss like that for a year. Not know how I endured!
In fact, I have never seen a paragraph written by her, but she loved the chance of changing words and make "improvements" on other person document. You know, the kind that changes "but" for "however". An easy task she gave for herself. 
She was the kind  who thinks that a  table full of paper means a lot of work and, therefore, competence.


There was another point, everyone wanted me to do everything.
You are trying to finish your work when, someone come to bother you with a request for help to do a job because he/she doesn't want  or doesn't know how to do it. 
I mean, there were many persons incompetents ou unwilling to do the work and ask for your help just because he/she shouldn't be there in the first place. 

And what about perform a task below your capacity ? Ok. sometimes it happens, no problem. Nevertheless, in the last two years this was the rule rather than the exception. 

Last but not the least, I had to deal with selfish and overbearing people. People who ask you to do somethinhg believing they are being clear, but they are not because, I suspect, they didn't really know what they want and how to get there. 
As a result you are given a task without proper information, with no clue where he/she intend to go or achieve. We know these people, the ones who only want what they want and don't give  a damn about others around him/her. 
If you try to please these people you are in a bad way because they will make you feel you can do nothing right. In fact, these people need to put others down because they have low self-esteem.

Fortunately I will no go back to that place again. I will move after my vacation is over. But before, I will enjoy the time I have!