Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Adeus a Laika (?/?/2009 - 09/11/2017)


Para aqueles que adoram animais a experiência de passar um período de sua vida cuidando de um cão, gato ou outro bicho é muito gratificante. Os cães, em especial, são seres capazes de fazer com que um dia ruim se torne algo de bom ou, pelo menos, menos carregado. 

Então, quando um destes seres parte em definitivo, a saudade e a dor são muito grandes. Ontem, experimentei mais uma vez a partida de um dos cães dos quais cuido.

Recolhi Laika da rua em frente ao condomínio onde moro em junho de 2009. Lembro-me bem do mês e ano, pois poucas semanas antes eu havia retirado outra cadela da rua.

Laila nunca foi saudável. Tinha leishmaniose. Conseguimos cuidar dela por quase nove anos, a maioria dos quais, viveu bem com os cuidados que lhe oferecíamos. Ela brincava com os demais cães, tinha sua própria casinha e cobertor. Era um tanto severa com os demais cães, principalmente com as cadelas, mas nada exagerado. Desde que reconhecessem sua dominância, exercida com discrição, ela não os controlava demais. 

Infelizmente, no último ano, ela voltou a apresentar sintomas da doença. Teve três recaídas em pouco mais de um ano. Graças a remédios e pronto atendimento, conseguiu se recuperar todas as vezes. Entretanto, na quarta recaída da doença, no final de outubro, e apesar da transfusão realizada e remédios oferecidos, ela não se recuperou a contento. Perdeu peso. Nove dias após deixar a clínica na qual estava sendo cuidada, ela partiu. Fechou seus ternos e queridos olhos para sempre. Morreu em casa, entre os seus, nos últimos minutos do dia 9 de novembro. 
Foi-se há pouco e sinto imensamente sua falta. Adeus, querida Laika!




quarta-feira, 8 de março de 2017

With Fire and Sword by Henryk Sienkiewicz

Two days ago I have finished to read the first part of Henryk Sienkiewicz fictional trilogy  (With Fire and Sword) about Poland's history in the seventeenth century.  The story is followed by a second part (The Deluge) and a third one (Pan Michael).

Sienkiewicz was a very celebrated and considered writer not only  in his homeland, Poland, but also abroad. His enthusiasm  for History in general, and for Poland old days, in particular made him, if not a prolific writer, a very well-known one. He wrote some novels and other short stories that were later translated for several idioms. 



With Fire and Sword tells the story, based on real facts, of the cossack uprising against Polish-Lithuanian nobility, wich held the power through land and collection of fees on Ukrainian peasants. While some characters in the plot actually existed in the event's times, many were created to give the story a dynamic plot. Jan Skrzetuski, for example, is fictional. The same goes with Zagloba and Podbipieta. Prince Jeremi Wisniowiecki and Chmielnicki were real characters from the events that occurred in the XXVI century. Others, like Jur Bohun, were based on a historical figure, Ivan Bohun, a cossack leader executed by firing squad in 1664. 

For me, the first contact with Sienkiewicz writings were, at same time, a pleasure and a disappointment. 

A pleasure because I had the opportunity to get in touch with Poland and Ukraine's history. I was I was motivated to seek information from other sources on the accounts of the Cossack uprising and the actual characters involved in the event. I learned a little about the geography and social relations of the regions portrayed in the novel and was even encouraged to look for information about Sienkiewicz's life  and  other works. It was very pleasant.

On the other hand, the story  is oversimplistic.  Many characters are too much stereotyped. Skrzetuski, for instance,  personifies the ideal of an ethical, loyal and correct Poland. The feelings  Zagloba dedicated towards  Princess Helena Kurcewicz, a person he saw just once in life and for a short period of time is simply too much. The cossacks are always depicted as violent, drunk and  unintelligent individuals. I mean, you do not empathize with the characters. They are shallow, with predictable actions and reactions. Ok, the nationalist vein of the author objectified a quickly and easy identification of the characters by the readers. Notwithstanding, stereotyped characters are cool when they take diferente course of actions you expected. That's not the case. As a result, at a certain point the story becomes repetitive and predictable. 

Is With Fire and Sword worth of reading ? Yes, it is. But don't expect too much. 



sábado, 11 de fevereiro de 2017

Living life as a checklist

Technology increasingly influences people in terms of opinions, values and behaviour. Our time has shrunk and we have little time and less  patience to others. Personal contacts are shallower and more cybernetic. We are also getting more and more busy. Everything in life has become a task. We have tons of things to be done and they are so awful  demanding! The pressures of the internet, the media and the infamous advisory services with their impersonal, normative and moral discourses make our lives some times frustranting. 




We are so urged to make our activities useful, efficient, healthly and enjoyable that we lose the notion that the results of our efforts are little dependent on ourselves. We get easily frustrated at every "sub-optimal" result we obtain, which leads us, through some experiencies, to frustration ,at first, and then, to  depression or dysthymia. 



The work environment, for example, the place where overwork, personal conflicts, boredom and lack of prospect appear all the time. We can deal with these things for a time, some can do it longer than others, but add to them  the company list of expectations with regard to you. Think about the  subliminal claims of your boss and colleagues. Also, guess what if you don't get the proper achievement they impel you to attain. Do you control all of them ? Half ? Little ? None ? 

And what about the search for the perfect body,  which has little to do with health and more with vanity ? Although diseases such as hypertension, diabetes or dyslipidemia reach many more obese individuals, "normal" weight persons also does not mean being free of these ailments.


Or the quest of the "right diet", which is based on decades of shifting and misleading conflicts of dietary advice ?*  Let's think about vegans and gluten-free food eaters, for example. Their diet will heal everything that bothers you and make you a better person. In fact, such ascription of moral eating and food, along with social media pressures ended up in a new disorder: orthorexia. 



So many duties, so much concern to hit, so much concern in high performance leads us to a politically correct, boring and melancholy life.
We pursue goals that are subliminally imposed upon us through the control of media discussions. No surprise, psychologist's offices are bursting, and the self-help multi-billion industry is doing very well.



* This happens because the researchs are almost always short-term investigations. They are not scientifically strong enough to prove anything. They only produce hypotheses for future investigations. Notwithstanding, the economy and business around healthy life  sell them as definitive scientific research (as if such a thing existed).

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Sobre o complexo de inferioridade do brasileiro de classe média

Certa vez almoçava com minha esposa em Nova Iórque na companhia de uma compatriota que há muitos anos residia nos Estados Unidos. 
Falávamos de diversos assuntos. A conversa ia animada e  sem rumo pré-definido. 
Em certo momento, ao falar do futuro casamento de seu filho com uma estadunidense,  meu conhecido respirou fundo e disse: "Tentei tirar da cabeça dele o desejo de ir casar no Brasil. Ele saiu ainda menino do país e deseja aproveitar o casamento para rever o país e parentes." 
Achei o desejo do rapaz mais do que positivo. Entretanto, meu interlocutor continuou: "Já vejo ele sendo enganado por aqueles brasileiros. Pagando duas ou três vezes mais para ter o mesmo que teria aqui. Sendo enganado na quantidade de salgados, doces e bebidas. Ele não está preparado para o Brasil."
Minha esposa e eu trocamos olhares rápidos. Tanto eu como ela fomos pegos de surpresa por  aquele comentário. Nós detestamos conversas típicas de classe-média brasileira com complexo de vira-lata. 
Não tentei argumentar muito, pois sei, todos sabemos, que gente com complexo de vira-lata, é caipira, ressentida e, no fundo, incapaz de ver algo de positivo em si mesmo por conta de sua origem condenatória.  

Indivíduos assim desejam se distanciar de comportamentos que ELES, e somente ELES, acreditam ser paradigmáticas do que é ser brasileiro. Eles buscam se identificar com o estrangeiro, acreditando que seus compatriotas são tudo de ruim que imaginam e do qual querem se distanciar. Contudo, como nunca deixarão de ser o que são: brasileiros, com sotaque, trejeitos e  comportamentos de brasileiros, colocam-se em um limbo.  Devem sofrer muito no dia-a-dia, imagino.  

Para mim é típico comportamento de  mateiros, jecas e matutos mentalmente colonizados.  



Esse fenômeno é muito disseminado entre a classe média brasileira, principalmente na classe média alta. Em geral funciona assim: tudo que existe ou vem lá de fora, inclusive as pessoas, é melhor! Tudo que aqui existe ou é por aqui feito, inferior é !
Então você conversa com um tipo destes durante poucos minutos, e, muito embora,  ele(a) acredite ser uma pessoa com conhecimentos e viajada, você  percebe logo que  está diante de um(a) ignorante (e a ignorância é uma benção, não é mesmo ?).  O ignorante não precisa prover nem justificar nada. Ele trata com fatos amplamente conhecidos! Você que pensa diferente, é que é burro ou desonesto e tem que apresentar explicações que logo serão desqualificadas frente a "verdade"que ele(a) conhece. 

O brasileiro de classe-média vira-lata aprecia falar mal de si e do país no qual nasceu. No máximo reconhece a exuberância natural do país. Fala que temos praias maravilhosas, paisagens naturais de tirar o fôlego. Pronto! Ele só vai até aí no elogio ao país!  Mas, cá entre nós, além deste discurso ser senso-comum, prova da incapacidade  intelectual  do ser em questão, é uma injustiça sem dó com a sociedade brasileira.

Ele(a) desconhece que, se o Brasil até os anos 60 do século anterior ainda era um país essencialmente agrário, com pouquíssimas mulheres exercendo atividades profissionais e com nenhum  controle do Estado por parte da sociedade, em 2017 estes dados se encontram superados.  O país avançou muito, só não vê quem não quer. Avançar muito, todavia,  não quer dizer  ter todos  todos os seus problemas resolvidos. 

Segundo dados do IBGE, divulgados pela página do Senado Federal, em 2000 o país tinha um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,69. Na faixa de desenvolvimento médio, portanto. Em 1990 era ainda de 0,59. Com os dados do último Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas (2015), o Brasil está entre os países com alto desenvolvimento humano, com IDH de 0,744. 

Embora estejamos passando por um momento de grave crise econômica e política, fato que dá passagem para argumentos derrotistas, a verdade é que o Brasil sempre avançou em termos sociais e econômicos nos últimos cem anos. Ainda que lentamente; ainda que menos do que gostaríamos ou fosse necessário para darmos uma qualidade de vida boa para a maior parte de nossa população dentro do prazo de uma geração, o país raramente parou de crescer e se desenvolver. 


Retirado de: http://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/pacto-federativo/infograficos-da-edicao/info_206_mapa-idhm-brasil

No campo social, nosso maior e sempre presente desafio é o da desigualdade social em termos de renda , escolaridade e oportunidades no mercado de trabalho.  Se a situação de todos melhorou, isto não foi feito de maneira a igualar as condições em que vivem todos os brasileiros. Há um contraste muito forte entre estados, regiões e classes sociais. Este fenômeno, contudo, sofreu diminuição ao longo do tempo. 

No espaço político, é onde se encontra nosso maior atraso em termos de comportamentos, valores e mentalidades. Nossa classe política, responsável formalmente pela condução do país de acordo com as preferências majoritárias da sociedade, se mostra indigna e incapaz dos desafios que a sociedade coloca. Quase sem exceções, a política no mundo tem sido dominada por indivíduos com agenda própria e com poucas intenções de realizar algo coletivamente. No caso de países como o Brasil, com  longo histórico de preponderância e domínio do Estado sobre a sociedade, a dimensão política, mais do que em qualquer outra, é onde se explicita a chamada "cordialidade" do brasileiro: o desgosto pela regra impessoal, o apreço pela informalidade, pelo jeitinho e pelo favor que resulta no privilégio. 

Acredito que aí estão  fatores que estimulam o complexo de inferioridade do brasileiro de classe-média. Ele gostaria de viver em um país em que sair a rua fosse tranqüilo como andar em uma avenida em Basiléia. Gostaria de ter estradas e pistas  amplas e sem engarrafamentos como vê nos filmes de Hollywood. Ao mesmo tempo, adora um tratamento diferenciado . Se for necessário, não se furta a mover conhecidos para  conseguir um emprego ou posição melhor dentro de uma corporação. Como acredita ser o modelo típico e acabado de pessoa que galgou posições por mérito, um empurrãozinho ou uma ajudazinha em nada negará esta "verdade". Sempre está pensando em como conseguir mais vantagens, privilégios e dinheiro. Acredita que pessoas pobres são merecedoras de seus destinos por serem gandaieiros. Enfim, o vira-lata de classe-média admira os modelos sociais existentes no exterior por acreditar que estão de acordo com os seus valores.  Enche a boca para citá-los como exemplos,  mas aqui no próprio país exerce o compadrio, o quebra-galhismo, o favoritismo e o nepotismo para si e para os seus (de preferência negando-os no discurso) e a insensibilidade para com os demais.



A versão cultural do complexo de vira-lata de nossa classe-média coloca igualmente a culpa pelo nossas mazelas  sobre os ombros das classes mais humildes.  O raciocínio, como não poderia deixar de ser, é simples e raso:  "os brasileiros são acomodados e aceitam receber pouco. Não conhecem a alta cultura e o que de bom se produz aqui e lá fora. Por conta disso, reforçam sua cidadania de segunda-classe." Uma das variações deste discurso aparece claramente na música. A bossa nova, estilo musical que surgiu em meio a classe-média alta da zona sul do Rio de Janeiro, serviu bem a aceitação da batida e ritmo do samba entre esta camada social. A classe média-alta e alta só aceitaram essa mescla no momento em que o componente estrangeiro "sofisticou" aquilo que era produzido pelas classes populares. Antes, samba era coisa sem qualidade feita por pobres e favelados.  

Desta forma,  fica claro que o ataque a "boçalidade" do brasileiro, dito assim sem maiores qualificações, busca no fundo atacar a falta de "verniz" cultural das camadas mais humildes de nossa população. Na verdade, se reveste de preconceito de pessoas que se acreditam "cidadãs do mundo", aquelas mesmas que usufruem de acessos privilegiados a pessoas, facilidades e oportunidades (na maioria das vezes fruto de compadrio rasteiro) para criticar a parte da população que elas exploram*.  Uma das maneiras mais eficientes de retirar a autoestima de uma nação é colocar uma sinalização negativa sobre sua cultura popular, sugerindo que ela seja tosca, incompleta ou equivocada.

São tipos de interpretações de pessoas  privilegiadas como esta que jogam lenha na fogueira do complexo de vira-lata. 


O vira-lata brasileiro, contudo, não tem vida fácil. Nada pior para ele do que a existência. Dói ser brasileiro. Ele cospe na própria imagem. Odeia espelhos. 
Ele é apenas um ignorante. Não percebeu que se outros países hoje possuem escolaridade e bem-estar melhores que aqueles que aqui possuímos,  é porque eles pagaram lá atrás, enquanto sociedade, um preço para isso. Preço este que a nossa própria classe-média vira-latas não deseja pagar. Ela não quer igualdade de condições e oportunidades e não deseja melhor dividir a renda nacional.  Ele(a) não se deu conta de que, enquanto um filho(a) da classe-média no Brasil nem sabe trocar uma lâmpada, colocar um quadro na parede ou fazer um simples almoço para si, os indivíduos de classe-média dos países que ele(a) diz admirar sabem fazê-lo. A classe-média brasileira é preguiçosa. Fruto de relações escravocratas. Ela deseja sentar na varanda, enquanto contrata a baixo custo, pessoas que farão as tarefas  que ela reputa indignas de sua atenção. Ela aceita a desigualdade por conveniência, mas reclama da violência urbana. Ela não tolera que o filho de um pedreiro possa competir no vestibular com o seu, nem ter as mesmas oportunidades na vida. Entretanto, reclama que o filho do pedreiro é sem motivação e preguiçoso por não seguir a carreira do pai. 
Ela finge não perceber que ela mesma é a causa  que impede o país de avançar mais rápido em bem-estar e igualdade.   


* Exemplo deste tipo de interpretação é o texto de Sérgio Paulo Rouanet intitulado O Nacional-Burrismo, publicado na revista Veja em 2004. 
Tratando-se de uma artigo, e sendo justo com o autor do texto, seu argumento foi exposto de maneira sucinta e rápida. Seu pensamento é mais elaborado do que este texto permite abordar. Entretanto, e sem negar a validade de algumas de suas afirmações, o artigo, como um todo, é uma clara obra de alguém situado no topo da pirâmide de privilégios que acredita abarcar de maneira desinteressada e justa a realidade cultural de nosso país. Ele associa e confunde cultura popular com nacionalismo cultural.  Sim ler Proust ou Guimarães Rosa é bom, mas não é necessário ler ambos, nem mesmo qualquer um dos dois,  para ter acesso a uma vida cultural plena e autêntica. Ou alguém irá sugerir que Mestre Vitalino,  J. Borges, Ariano Suassuna, e tantos outros,  não tiveram uma vida plena e rica naquilo que fizeram e fazem.   O problema de discursos elitistas é que quem o profere sempre coloca a si mesmo como modelo. 

sábado, 21 de janeiro de 2017

Escada de Minha Mansarda



Escada de Minha Mansarda 
(Guilherme de Almeida)*










* Poeta, tradutor e crítico de cinema. Foi um dos organizadores da Semana de Arte de 1922, bem como ajudou a fundar a Fundação Escola de Sociologia e Ciência Política de São Paulo (FESPSP) em 1933.