Em alguns momentos chego a acreditar ter me tornado um misantropo. Nada grave. Como sabemos misantropos não são psicopatas ou indivíduos com comportamento aberrante. Nada disso. Apenas preferem manter-se à margem de discussões e do contato social com a maioria das pessoas.
Na maior parte das vezes, entretanto, me imagino apenas como alguém que prefere não estabelecer contatos superficiais, interesseiros e sem empatia. Talvez uma pessoa muito, muito seletiva no uso de seu tempo e de suas companhias. Não porque se imagine melhor que os demais, mas apenas porque, aqueles assuntos comumente debatidos pela maioria das pessoas (novela, futebol, carro, vida de alguém famoso ou uma narrativa de cunho egocêntrico), e que formam o caldo comum das conversas, não me interessam de forma alguma.
Tudo bem, às vezes converso um pouco sobre futebol. Faço-o, porém, sem inspiração.
Sou daqueles que nunca se chateiam quando tem um encontro desmarcado, pois vejo ali a oportunidade de ficar mais tempo comigo mesmo.
Sinto-me bem com o que tenho e com o que sou na maioria das situações.
Aprecio ficar em casa. Se pudesse, ficaria dias sem sair de lá. Gosto muito de preparar um café com bolo para mim. Ajeitar a mesa e tomar o café lentamente. É claro que, se tiver um boa companhia nesta hora, a coisa ficaria ainda melhor. Ou ainda escolher um entre os trinta ou quarenta livros que estão na fila aguardando leitura. Daí, me acomodar na cadeira de balanço ou na poltrona e começar a leitura. Me levantar de vez em quando e ir até o quintal brincar com os cachorros. Voltar para o livro depois.
Se é sábado à noite, peço uma pizza para meu deleite. Por fim, se for o caso, assisto um filme ou documentário na televisão ou, mais provável, em meu computador.
Em casa posso fazer tudo isso sem ter que me envolver com o tumulto e o stress da cidade. Tão bom quanto isso, não custa quase nada em termos financeiros.
Sozinho me sinto inteiro, sem ser pleno. Não há vazio. Quando, volta e meia, sinto necessidade de conversar com alguém, envio um Whatsapp ou telefono para alguma das não mais do que sete pessoas, creio eu, que fazem parte do meu mundo. Com elas converso demoradamente. Falo e ouço muito. Troco impressões. Tanto sugiro quanto sou aconselhado. Com a maioria delas ainda tenho a oportunidade de sair para almoçar ou tomar um café de vez em quando. É ótimo!
Entretanto, o que me tira o equilíbrio e a seriedade são o palavrório, o egocentrismo e a jactância. Aborreço-me muito quando, alguém me toma como refém de suas necessidades de contar vantagem ou puxar conversa sem sentido. Você sabe, aquele instante em que alguém, sem a mínima noção, entra em seu espaço (ultrapassa a linha amarela) para dizer ou interpretar coisas que só lhe dizem respeito, são sem importância ou mesmo de mau-gosto. Céus, como tem gente assim no mundo!
Sei que no cotidiano muitas pessoas logo percebem que eu prefiro estar só, e me têm como metido ou auto-suficiente. Auto-suficiente ? jamais! Aprecio quem traz boa conversa e novas maneiras de ver e interpretar o mundo. Gosto de pessoas que sabem falar tanto quanto sabem ouvir. E com elas gosto de dividir meu tempo ao invés de estar só. Entretanto, me parece (posso estar errado nesta impressão) que a imensa maioria das pessoas possuem uma necessidade de estabelecer contato que eu não tenho. Ao tentarem se aproximar de alguma forma, tiram a conclusão de que sou metido. Fazer o que ? Gosto de ficar só na maior parte do tempo.
Há poucos dias tive uma excelente conversar com um senhor em um banco de praça. Ele cantarolava uma música que era a chamada de uma das rádios que escuto. Perguntei se ele ouvia a tal rádio, ele confirmou e conversamos mais de uma hora sobre programas de rádio e músicas. Foi um período da tarde agradável.
Não, não sou misantropo. Só não gosto de conversa fiada.