Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Somos diuturnamente expostos (bombardeados) com as opiniões especializadas emitidas por pessoas de todo o tipo. São médicos, juristas, personal trainers, consultores de negócios, de etiquetas e outros tantos entendidos,  que nos dizem exatamente o que pensar, fazer ou como se comportar.


Ao mesmo tempo, é forçoso reconhecer que a maioria de nós é composta por pessoas terrivelmente desacostumadas a utilzar o intelecto para analisar as mensagens que recebe. 
Sempre me lembro daquelas propagandas de colchão, em que os atores aparecem vestidos de branco, como se fossem cientistas ou médicos, utilizando-se de linguagem formal para vender seu produto. Se parássemos para pensar um pouco, chegaríamos a conclusão inevitável de que se trata de um engodo. Empurram-nos para um tipo de comportamento (comprar o colchão da marca X) sem que pensemos muito sobre se aquele sujeito que aparece na tela é de fato um especialista ou um mero ator se fazendo passar pelo que não é.


Todas as propagandas são assim. Desejam induzir comportamentos ou valores sem muita reflexão. Ok, faz parte do negócio.


O que me incomoda em particular é que este tipo de (im)postura tomou conta de quase todas as dimensões de nosso dia-a-dia. A diferença é que é muito mais difícil perceber o que é mensagem séria, comprovada, fruto de debates e contraditórios, é o que é mera ideologia camuflada de verdade (científica, religiosa ou médica).


Nunca tanta informação e conhecimento nos foi oferecido como nos dias que correm:  computadores, smartphones, tablets eletrônicos e leitores de livros digitais estão aí para nos possibilitar receber e enviar mensagens, notícias, conhecimento e ideologias. Ao mesmo tempo, nunca foi tão importante possuir capacidade crítica para analisá-las e interpretá-las.


Ligo o rádio para escutar boa música e relaxar. Depois de um tempo entra um programa sobre saúde. O  médico que o apresenta nos brinda com quinze a vinte recomendações (que invariavelmente são anunciadas como deveres) nos cinco cinco minutos de duração do programa.


Na internet, TV ou nas bancas de revistas abundam as dicas ou sugestões: coma isso, não coma aquilo; pratique X minutos de atividade física por Y dias por semana; escove os dentes de tal forma; sente-se à mesa com a postura tal, leia o autor fulano se não quiser fiquer fora das conversas inteligentes; seja um líder no trabalho; esteja sempre estudando para não ficar para trás na vida profissional; brinque com seu filho pelo menos X horas por semana e seu relacionamento com ele será proveitoso para o resto da vida; e por aí vão as recomendações.


O sujeito tem que ser um super-homem incansável e dispor de mais de vinte e quatro horas por dia para realizar o que tentam nos impor. 


Se fizéssemos metade do que nos recomendam, não teríamos tempo para mais nada na vida.
Por que não simplesmente fazer o que gosta, sem prejudicar ninguém e ser feliz ? Para mim isso já é o bastante.
Alguém pode objetar: "Não fazemos só o que queremos ou gostamos!" Isso é certíssimo, mas no tempo que temos para fazer o que gostamos, por que não fazê-lo ?
Gostas de correr em uma pista de exercício a manhã inteira ? Faça-o!
Gostas de dormir ? Por que não ?
Ler e ouvir música lhe dá um prazer indescritível ?  Então por que calçar tênis e ir correr meia hora só porque a moda (travestida de ciência) diz que isto sim é que irá lhe fazer bem ?


Só vale a pena viver a vida com prazer (já nem digo felicidade).
É torturante ouvir alguém vender um estilo de vida como o certo, só porque combina com o seu ou porque ele(a) aderiu a este estilo de maneira irrefletida. A praga das academias e da vida saudável é um exemplo da industria que massacra com sua ideologia alienante de modo de vida correto.


*Vale a pena ler o sítio na internet que discute esta questão em termos de crítica ao discurso pseudo-científico do culto aos cuidados com a saúde: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232010000700081&script=sci_arttext .