Benvindos!

A idéia de criar este espaço surgiu aos poucos. Nasceu da necessidade de expandir o grupo de pessoas com as quais me correspondo ou com as quais converso sobre temas de interesse em comum. Desejo que seja um lugar de troca de idéias e informações, mas , sobretudo, de boa conversa, democrática e sem preconceitos. Mais uma vez, benvindos.



terça-feira, 24 de março de 2015

Um fim de semana na Cidade Maravilhosa

Desembarco no Rio de Janeiro. Venho visitar meus pais. Faço este tipo de viagem três a quatro vezes por ano. Raramente o roteiro que irei descrever muda durante minha estadia na cidade.

Terei que ir de ônibus ou taxi, pois desta vez decidi fazer uma surpresa e chegarei sem que eles esperem.
Nada de ônibus no ponto (desci no Galeão). Posso esperar, o que poderá me tomar um longo tempo, ou pegar um taxi. Neste último caso, já sei o que me aguarda. Não serei decepcionado em minha expectativa.

Pago o valor de balcão para uma das moças que aguardam os que desembarcam. Elas estão sempre batendo nos vidros das cabines de maneira desesperada e barulhenta para perguntar se desejamos táxi. Nunca vi coisa igual no restante do Brasil ou no exterior. Em minha opinião o comportamento delas assusta mais que atrai a um interessado. Eu mesmo, quando posso, as evito. Desta vez, como tinha um pouco de pressa, decidi enfrentá-las (este  é o termo correto!).

Como escrevi, paguei o preço estabelecido pela tabela. A moça do balcão chama um taxista. Ao saber o valor da tarifa que paguei (R$ 53,00) ,  coça a cabeça e diz algo como : "fulano não estava aqui ?  vamos ver lá fora." Já sei, se puder irá evitar o serviço. Busca um passageiro que pague uma corrida maior e quer me passar para outro taxista.  Já vi isto outras vezes, de forma que já esperava. Cheguei ao Rio de Janeiro!

Não encontrando outro que faça o serviço, resmunga algo e coloca a única bolsa que trouxe comigo no banco de trás do carro.
Tento mudar de assunto (já que foi ele que puxou um), mas ele se concentra em tentar me constranger e achacar dizendo que a tarifa de balcão é de baixo valor e que a prefeitura precisaria revê-la.  Contudo, não fui pego de surpresa. Ao chegar ao meu destino, paguei-lhe o combinado no balcão e dou-lhe às costas decidido a aceitar a carona que meus pais certamente me oferecerão no retorno até o aeroporto.

Nos três dias seguintes saio pouco por conta do calor da cidade (calor que sempre me foi insuportável, muito embora tenha vivido vinte anos no Rio de Janeiro).  Nas duas vezes que sai, necessitei fazer uma ou outra pergunta sobre que ônibus utilizar para ir a tal ou qual lugar (sempre que posso evito perguntar algo a alguém no Rio, mas como estou já há alguns anos fora da cidade, nem sempre posso  evitar perguntar). Com exceção de uma única vez, recebo sempre respostas tortas de pessoas ignorantes. Parece-me que elas aguardavam aquele momento, no qual desaguariam suas frustrações. Aproveitaram minha pergunta para se sentirem melhor tratamento-me de forma deseducada. Talvez agir assim tenha feito algum bem para elas, não sei,..., talvez seus cotidianos sejam tão medíocres que necessitam tratar os outros como sentem a respeitos de si mesmos.  No Rio, este comportamento independe de classe social ou nível de escolaridade (muito embora seja mais frequente na classe média da zona norte e nos níveis populares de qualquer região da cidade).

Mesmo aí, não fiquei surpreso. O carioca sempre foi, com raras exceções, um tipo que só trata bem  quando tem algum interesse imediato na pessoa.  Eles mesmos, entre si, se tratam de forma deselegante. Chamam-se aos gritos, por apelidos ou diminutivos, quando não por assobios. O que esperar de relações tão rudimentares ?

A característica, porém, que é universal no Rio, sem exceções, é  a malandragem. Todo mundo o é.
Do porteiro de prédio, ao executivo de empresa, todos têm pelo menos uma história para contar na qual "se deram bem" ou "enganaram um otário". Parece que o cotidiano deles é passado em meio a estratagemas de passar a perna em alguém. E o pior é que  disso se jactam.
Enquanto em outros lugares as pessoas sonham ser engenheiros, padres, diplomatas, professor; no Rio bom mesmo é ser malandro.

Na volta para a cidade onde moro, evito qualquer contato com os nativos no caminho até o aeroporto.

Decido que assim que meus pais se mudarem da cidade, e torço para que o façam logo, nunca mais porei os pés na "cidade maravilhosa". Aquele  local é sujo, violento, fede, tem uma sociabilidade de m... e nunca foi o melhor local para se fazer amizades (todos meus amigos, com exceção de um, são de fora do Rio).
Cheguei a conclusão que só malandro fala bem do Rio.